Camdyn
31 de outubro de 2005 – 3 de novembro de 2005
Meu nome é
Christelle e eu estava com 15 semanas de gravidez de Camdyn quando
nós descobrimos que ela era anencéfala.
Eu fui à
minha médica para confirmar a gravidez, e ela me pediu para
fazer um ultrassom para determinar se eu estava com o tempo de
gestação que havia calculado, ou se havia gêmeos.
Fiz o ultrassom no dia seguinte, minha mãe e minha irmã
estavam lá comigo no lugar do meu marido. A técnica
dizia que o bebê – não eram gêmeos! Graças
a Deus! – não estava parando o suficiente para pegar uma
boa imagem da cabeça. Então ela chamou outra técnica
para ajudá-la. Esta técnica veio e continuou o exame,
mas virou a tela de forma que eu não conseguia vê-la.
Então ela disse que não estava conseguindo uma boa
leitura ainda e que o bebê estava se mexendo, então eu
precisaria ficar deitada de lado por alguns minutos. Ambas saíram
da sala e voltaram após alguns minutos, encerraram o exame e
me disseram que eu precisava esperar por alguns momentos, porque os
computadores não estavam funcionando bem e elas queriam ter
certeza de que haviam pegado todas as imagens necessárias,
para que eu não precisasse voltar lá novamente.
Então eu
disse a minha mãe e a minha irmã para irem embora, que
depois eu telefonaria para elas. As técnicas voltaram e
disseram que já tinham terminado, e que eu precisaria passar
no consultório de meu médico para saber qual era a data
do parto. Achei aquilo estranho, porque eu já tinha uma
consulta marcada para a próxima semana. Eu caminhei até
o consultório e a enfermeira que trabalhava com ele estava
esperando por mim, chorando, e eu me lembro de ter pensado comigo,
ela deve estar tendo um dia difícil. Quando eu olhei no rosto
da minha médica, eu soube que algo estava errado. Ela me pediu
para sentar e começou a dizer que, já que eu já
tinha tido um bebê saudável, ela sentia que podia me
dizer que nosso bebê tinha anencefalia.
Eu estava sozinha...
Eu fiquei sentada
lá tentando processar o que havia acabado de ouvir. E levou um
tempo. Eu me lembro de pensar: não conosco, não comigo!
Não com este bebê! Não pode ser verdade!
Minha médica
e eu choramos juntas e ela me perguntou o que eu queria fazer, e eu
lhe disse: “Nada, absolutamente nada. Eu não concordo
com o aborto e mesmo que eu concordasse, eu não faria isso”.
Ela disse que pensava da mesma forma e estava aliviada com minhas
palavras. Eu estava tão devastada para dirigir, então
meu irmão veio e me levou até o trabalho do meu marido,
para que eu pudesse lhe dar a notícia. Eu lhe contei sobre o
exame e ele apenas ficou com o olhar distante. Sei que ele sentiu o
mesmo que eu. Ele saiu do trabalho e veio para casa e nossa família
chegou e nós apenas nos abraçamos e choramos pelo resto
da noite.
Durante toda a gravidez nós dois esperamos
secretamente que os ultrassons estivessem errados (nós fizemos
outro para confirmar o diagnóstico e descobrir o sexo) e
esperamos que ela pudesse nascer perfeita. Era muito difícil
de acreditar, ela era tããão ativa!! Ela me
acordava durante a noite eu ficava sem fôlego por ela ser tão
ativa. Foi uma gravidez difícil. Eu tinha muitos enjôos,
não apenas durante as manhãs, mas durante todo o dia!
Em meio a tudo
isso, nós descobrimos que nosso convênio não
cobriria nenhuma despesa de maternidade. Oh não!! Era uma nova
empresa de convênios e não havíamos tido esse
tipo de problema com nosso primeiro bebê. Nós não
sabíamos o que fazer. Eu sou mãe e dona de casa, e meu
marido trabalha o máximo de tempo possível e nós
simplesmente não sabíamos como faríamos para
manter as contas pagas. Foi quando alguns amigos nossos, Kyle e Emily
Myers, souberam de nossa situação, sabendo que já
era ruim o suficiente, que iríamos perder nosso bebê,
eles decidiram fazer uma campanha para arrecadar doações
para nós. Eles foram enviados por Deus.
A campanha foi
anunciada em um jornal local, e eu e nosso filho estávamos na
primeira página com nossa história. Nós tivemos
um retorno maravilhoso! Pessoas estranhas ligavam para me dizer que
nós éramos uma inspiração para elas e que
estavam orando por nós. Eu recebi até cartões
pelo correio de pessoas oferecendo apoio. Nós ficamos tão
surpresos. Estávamos nos sentindo tão isolados, sem
conhecer ninguém mais que houvesse passado por uma situação
como esta.
A campanha foi maravilhosa. Nós percebemos o
quanto nossa comunidade se mobilizou para nos ajudar a enfrentar a
situação, houve mais de 400 pessoas que ajudaram!! É
um bom resultado para nossa pequena cidade.
Nós
estávamos nos aproximando da data do parto e ficando muito
ansiosos sobre o que iria acontecer. Eu estava deplorável.
Enorme, com muitos enjoos e sem dormir direito. Sei que as mulheres
podem me entender…
Eu cheguei até
as 37 semanas e fui induzida para um parto normal. Não tive
aumento de líquido amniótico. O medico teve que romper
minha bolsa. Quando Camdyn nasceu, em 31 de outubro de 2005, elas
pesava exatamente 6 lbs (ou 2,70 kg), que é o quanto ela
precisava ter para podermos doar seus órgãos. Ela não
tenha nenhuma outra malformação. Ela era a mais bela
bebê, parecia perfeita desde seus dedos do pé até
suas sobrancelhas. Acima delas, ela tinha o cérebro exposto,
onde sua calota craniana não havia de desenvolvido
completamente. Ela tinha um pouquinho de cabelos escuros e
encaracolados e os mais belos olhos. Ela viveu por 73 horas e 22
minutos. Ela nos deixou em 3 de novembro de 2005.
Nosso anjo viveu
o suficiente para ser levada para casa. Ela ganhou colo em todos os
minutos de sua vida. Camdyn abriu os olhos (mas não achamos
que ela pudesse ver), ela era muito sensível, segurava nossos
dedos, ela pedia para comer e respondia à minha voz. Vê-la
fazendo todas estas coisas era tão animador porque nós
havíamos ouvido que ela não teria nenhuma expressão,
não sentiria dor e não teria reações.
BEM, ELA PROVOU A TODOS QUE ESTAVAM ERRADOS!!
Ela mamava cerca
de ¼ a ½ onças (7 a 15 ml) por vez, mas tinha
bastante dificuldade de reter o leite. Acredito que seu esôfago
não era bem formado. Em seu primeiro dia de vida, Camdyn
conheceu muitas pessoas. Todos os nossos amigos e familiares estavam
no hospital para nos apoiar e com esperança de poder
conhecê-la (nós antecipamos que ela não viveria
por muito tempo).
Quando ela estava
nascendo, ficou presa e deslocou sem ombro, ela estava tão
machucada e quando eles a deram a mim, ela estava tão
arroxeada, que nós pensamos que seria apenas uma questão
de minutos com ela. Depois eles a posicionaram no meu peito e ela foi
imediatamente batizada. Eles nunca deram oxigênio para ela. Eu
apenas fiquei falando com ela, dizendo que tudo ficaria bem, e que
nós a amávamos muito. Ela tinha determinação
para viver. Sua respiração ficou melhor, sua cor também
foi melhorando e ela estava tentando abrir os olhos. Foi
maravilhoso.
No segundo dia de
vida de Camdyn, nós sentimos que queríamos ir para
casa. Não senti que o hospital era o lugar em que ela
precisava estar. Então nós a levamos para casa à
noite. Ela dormiu a maior parte do tempo, nós a acordávamos
para alimentá-la um pouco. Nós demos o primeiro banho
nela, ela estava tão linda e sentia cócegas facilmente.
Mas foi quando nós começamos a perceber que ela estava
tendo convulsões. Eram pequenas, mas o suficiente para nos
assustar. Graças a Deus, nós tínhamos alguns
familiares conosco o tempo todo para nos ajudar e passar o maior
tempo possível com Camdyn. Nós pudemos nos revezar com
eles para cuidar dela, e então fomos descansar. Meu marido e
eu estávamos exaustos e eu não tinha dormido desde a
noite anterior ao nascimento dela. Nós demos cuidadosas
instruções para que, se qualquer coisa acontecesse, nos
chamassem. Eles nos acordaram às 4 horas da manhã para
dizer que ela tinha feito cocô! Sei que isso pode parecer bobo,
mas nós ficamos tão felizes porque não achávamos
que ela pudesse fazer isso!
No terceiro
dia de vida de Camdyn houve uma mudança. Sua cor estava ruim
como quando ela nasceu, e ela chorava de dor. Era de partir o coração
ouvir aquele som vindo de um anjinho tão doce e inocente. E
desde aquele dia, eu nunca consegui esquecer aquele som do seu choro.
Havia uma equipe
hospitalar trabalhando conosco em casa desde o primeiro dia para nos
apoiar e ajudar Camdyn a ficar confortável. A enfermeira nos
perguntou o que nós queríamos fazer para ajudar nosso
bebê a ficar confortável. Bem, Camdyn não estava
mais forte o suficiente para mamar e quando mamava, voltava tudo na
mesma hora. Nós decidimos que alimentá-la estava sendo
mais para nosso interesse do que para o dela, e ela parecia estar
sofrendo... então nós decidimos parar de alimentá-la
e começar com a morfina. Isso era às 11h da manhã.
A primeira dose, ela pôs a maior parte pra fora. Mas a
enfermeira disse que ela absorveu boa parte. Ela chorava muito. Toda
a família e amigos mais uma vez estavam lá ao nosso
lado, e por volta das 2h da tarde nós percebemos que iríamos
perdê-la. Ela faleceu nos braços meus e do seu papai às
2h43. Ela chorou até o último instante. Nós
ficamos com ela por mais algumas horas, para que todos pudessem dizer
adeus. Nosso capelão veio abençoá-la e nos
ajudar a deixá-la ir.
Nós
sabemos que ela foi uma bênção não apenas
para nós, mas para todos que puderam conhecê-la e ver
sua personalidade. Ela na verdade tem sorte de não ter que
sofrer mais. Camdyn é um anjo em nossas vidas e nós
sabemos que ela está em sua nova vida. Ela tocou muitas vidas
durante o pouco tempo que viveu, e ajudou muitas pessoas que nós
nem conseguimos imaginar.
Nós
tiramos muitas fotos dela e agora parece que não foram
suficientes.
Nós
doamos os órgãos de Camdyn, eles aproveitaram seu
coração, córneas, fígado e pele. Nós
soubemos que o seu coração já ajudou dois bebês.
Graças a Deus. Gostaria que pudéssemos ajudar outras
famílias que sentem a perda que nós sentimos.
Camdyn tem um
irmão mais velho, Layne, eles tem exatamente um ano de
diferença. Ele é muito jovem para lembrar-se de tudo
que aconteceu, mas quando ele crescer, saberá quem é a
sua irmã.
Eu ficaria muito
feliz em poder conversar com alguém sobre Camdyn e sobre a
gravidez dela. Eu espero ajudar mais alguém. Eu me senti muito
sozinha. Não desejo que mais ninguém se sinta assim.
Christelle
Última atualização em 07.03.2019