Relatório sobre o nascimento e a vida de bebês com anencefalia
Autora: Monika Jaquier
Quando os pais recebem o diagnóstico de anencefalia para o seu bebê,
eles muitas vezes recebem apenas um mínimo de informações
sobre o que está reservado para eles. Os médicos
geralmente não podem lhes dizer muito sobre quanto tempo o
bebê que esperam poderá viver, já que a maioria
dos médicos presenciaram muitos poucos casos em sua prática
médica. Não existe quase nenhuma informação
publicada sobre o resultado espontâneo de uma gravidez com um
bebê afetado por anencefalia.
Mas os pais têm dúvidas. Eles precisam saber o máximo
possível sobre a condição do seu bebê.
Existe o risco de que o bebê morra durante a gravidez, no ventre de
sua mãe?
Quais são as chances de que o bebê sobreviva ao nascimento?
Quanto tempo os bebês com anencefalia sobrevivem após o nascimento?
Há fatores que podem dar ao bebê uma maior chance de sobreviver ao
nascimento?
Para responder a essas perguntas e para ajudar as famílias que se
preparam para o nascimento de seu bebê, foram enviados
questionários para as famílias que optaram por não
interromper a gravidez. Essas famílias foram encontradas
através do site www.anencephaly.info.
Dados referentes a 303 bebês foram coletadas. Todos os bebês
foram diagnosticados com anencefalia e foram levadas a termo ou até
o parto prematuro espontâneo.
As informações recolhidas são surpreendentes. Os
resultados podem dar coragem às famílias afetadas e
permitir aos obstetras oferecerem um melhor aconselhamento após
o diagnóstico. Não há dúvida de que a
anencefalia é sempre fatal, mas as chances de poder segurar
seu bebê vivo em seus braços são grandes.
Resultados:
A gestação:
Quase 40% dos bebês nasceram prematuramente (antes de 37 semanas de
gestação) e 4% além do prazo (depois de
completar 42 semanas de gestação). Entre os que
nasceram a termo, 2/3 das mães tiveram o parto induzido ou
tiveram uma cesárea planejada.
Em 30% dos casos, houve excesso de líquido amniótico
(polidrâmnio). Esta condição duplica o risco de
um parto prematuro. Entre aqueles que tinham polidrâmnio, quase
60% dos bebês nasceram antes de 37 semanas, contra 30% entre as
gestações não afetadas.
Outras complicações gestacionais foram raramente observadas.
Muitas mães com gestações anteriores não
notaram nenhuma diferença subjetiva sobre o bem-estar geral
entre as suas gestações. Muitas vezes, os movimentos
fetais do bebê afetado foram mais intensos do que com um bebê
saudável.
O nascimento:
Em quase todos os casos, o parto vaginal foi possível sem
problemas. Ao contrário da crença de que o parto pode
se prolongar devido à falta do crânio e da cabeça
menor, mães com gestações anteriores não
notaram nenhuma diferença subjetiva quanto à duração
e intensidade do trabalho de parto. Daquelas que escolheram um parto
vaginal, 42% teveram um parto espontâneo.
Várias mães optaram por uma cesariana planejada com o objetivo de
evitar parto de natimorto. Outra indicação foi em
gravidez de múltiplos, onde tudo foi feito para reduzir o
risco para os gêmeos / trigêmeos saudáveis.
A vida do bebê até e após o nascimento:
Contrariamente à crença comum, apenas um pequeno número de
bebês afetados morreu no útero.
Aqui estão as estatísticas:
7% faleceram no útero
18% morreram durante o parto
26% viveram entre 1 e 60 minutos
27% viveram entre 1 e 24 horas
17% viveram entre 1 e 5 dias
5% viveram 6 ou mais dias
Assim, de bebês concebidos com anencefalia, 75% sobreviveram ao parto.
No entanto, houve diferenças significativas nas taxas de
sobrevivência relacionadas aos diferentes métodos de
nascimento.
No caso de uma cesariana planejada, apenas 4% foram a óbito
durante o parto (todos estes eram bebês com malformações
adicionais que aumentavam a mortalidade). Não só mais
bebês sobrevivam ao nascimento, mas eles também viveram
mais tempo. Dos bebês afetados que nasceram por cesariana, 53%
morreram em 24 horas, 30% viveram até 5 dias, e 13% viveram
mais do que 6 dias.
No caso de nascimento vaginal, o risco de morte fetal após
ruptura artificial das membranas é duas vezes mais elevada do
que quando nenhuma intervenção é feita. Quando a
bolsa amniótica foi rompida pelo obstetra ou parteira, 37% dos
bebês morreram durante o parto contra 18% quando a bolsa rompeu
naturalmente.
As mulheres grávidas devem chamar a atenção de seu
obstetra para este fato, a fim de aumentar a chance de seu bebê
nascer vivo.
A duração de gestação também é
decisiva. Não há diferença significativa entre a
taxa de bebês nascidos vivos antes das 37 semanas de gestação
ou depois. Mas os bebés prematuros têm uma menor
expectativa de vida, já que apenas 7% viveram mais de 24 horas
em oposição a 32% dos bebês nascidos após
37 semanas.
Resultados adicionais:
Há uma preponderância do sexo feminino entre os bebês com
anencefalia. A proporção de mulheres para homens foi de
3 para 2.
Para os bebês nascidos com 40 semanas, o peso médio 2.740 Kg.
Malformações adicionais estavam presentes em 9% dos bebês. Esta pode ser uma
subestimação, pois se refere apenas às
malformações observadas na ultra-sonografia ou após
o nascimento do bebê, como mielomeningocele, encefalocele,
lábio leporino, fenda palatina, malformações
cardíacas, malformações dígitais, e assim
por diante.
Um histórico familiar positivo para defeitos do tubo neural (ou
seja, anencefalia, espinha bífida ou mielomeningocele,
disrafismo espinhal fechado) foi relatado em 5% das famílias.
Das 9 mães que tiveram um parto domiciliar, não houve
complicações e todos os bebês sobreviveram ao
parto.
Um
bebê com anencefalia estava presente em uma gravidez de
múltiplos em 41 casos. Destes, 37 mães estavam grávidas de gêmeos e 4 de
trigêmeos.
Entre todas as famílias que optaram por continuar a gravidez em vez
de ter uma interrupção eletiva, nenhuma família
lamentou a sua decisão anterior para levar a gestação
a termo. Muitos escreveram o quão importante foi essa decisão
para eles poderem ver e tocar seu bebê, natimorto ou nascido
vivo, para dar-lhe um lugar na sua família, e para realizar um
enterro.
Sou muito grata aos pais que generosamente forneceram informações,
sem o seu apoio, este relatório não poderia ter sido
produzido.
7 de March de 2006
Correspondência para:
Monika Jaquier
Route du Vernay 32
1677 Prez-vers-Siviriez
Switzerland
e-mail para contato: info@anencephaly.info
em inglês, alemão, francês somente
última atualização 19.03.2021