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Sofia

 

Em Maio de 2004, eu recebi a feliz notícia de uma gravidez muito esperada. Foi maravilhoso pois eu seria mãe. Logo começaram os preparativos para a vinda do bebê. Os exames de ultrasonografia foram marcados e ai veio a ansiedade de saber se era menina ou menino.

Com 3 meses de gestação, eu fui à consulta e recebi a notícia de que teria uma menina, mas no mesmo dia, também recebi a notícia de meu bebê era anencéfalo.

Eu não tinha conhecimento nenhum sobre o que era Anencefalia, apenas a informação do médico de que meu bebê não sobreviveria após o parto. Foi desesperador. Não sabia o que responder. Foi difícil naquele dia chuvoso e frio. Eu já tinha comprado algumas coisas para meu bebê como a banheira, o berço, o livro do bebê, babador e sapatinhos. E agora ? Como falar para meus familiares e colegas que já sabiam da gravidez ?

Cheguei em casa e acessei a internet. Pesquisei sites nacionais e internacionais a fim de obter informações sobre um assunto que a gente pensa que nunca vai acontecer com você. Bem, estudei, li, encontrei algumas fotos de outros bebês com a mesma má formação congênita. Ficava pensando se era assim que minha Sofia iria nascer. Mas, ao mesmo tempo, eu ficava muito triste pois não teria tempo de pegá-la nos braços, de tirar fotos com ela, de beijá-la, de ver seus pés e suas mãos.

Parei, pedi muito a ajuda de Deus para iluminar meus pensamentos, para que eu tivesse forças para vencer.

Montei um enxoval rosa e branco para ela, com uma roupa especial para ela vestir no momento da sua partida. Era um lindo macacão branco, com uma ovelhinha bordada.

Passaram-se os 9 meses e o dia de seu nascimento chegou. Era um dia muito quente de verão, Fevereiro de 2005. E às 14:00 hs o seu chorinho de recém-nascido, soou na sala de parto. As enfermeiras logo a pegaram, fizeram os procedimentos médicos, colocaram-na no bercinho aquecido com oxigênio e ai ela parou de chorar. Depois, uma das enfermeiras colocou-a perto do meu rosto e eu disse: Oi Sofia, eu sou sua mamãe. Naquele momento eu senti algo mais. Senti que eu teria tempo para pegá-la nos braços e tirar algumas fotos.

Sofia nasceu com 45 cm e pesando 2500g. Ela ficou na encubadora e eu voltei para casa depois de 2 dias, de mãos vazias.

Eu a visitava todos os dias no hospital. Tinha saudades, era gostoso pegar na sua mão. Quando eu chegava para vê-la, sentia que ela se mexia bastante, ela também sabia que eu estava lá. Esse período durou 17 dias, até que os médicos decidiram que eu poderia cuidar dela se ficássemos juntas num quarto do hospital. Eu cuidando dela 24 horas, mas com supervisão médica.

Aprendi a trocar a fralda, dar o leite pela sonda (pois ela não sabia engolir), aprendi a fazer o curativo (pois parte do cérebro fica exposto ao ar e precisa de cuidados especiais). Esse período durou 2 meses até que eu pedi para o hospital, que deixasse eu a levar para casa pois eu tinha aprendido todos os procedimentos e afinal de contas, o quartinho dela e a casa dela estava esperando por ela.

Levei-a para casa mas ainda com supervisão médica. Médicos, enfermeiras e a assistente social vinham semanalmente na minha casa para examinar a Sofia. Sempre recebia elogios.

Durante esses 2 meses que ficamos em casa, a Sofia cresceu, engordou, precisou até de roupas novas. Nós ficávamos juntas o dia todo. Eu contava estórias, cantava, ligava o CD com músicas clássicas e músicas de piano. Ela adorava, relaxava e sentia feliz. Na hora do banho, conversávamos bastante pois eu ia contanto para ela tudo o que fazia (agora vamos passar o sabonete, agora vamos enxugar as mãos). Era maravilhoso. Ela sorria e esticava as mãos para mim pedindo colo. Eu pegava-a no colo, abraçava e beijava sua mãos.

Tiramos umas 300 fotos. Uma de cada momento. Pintei seus pés com tinta guache e marquei papéis e toalhas. Ela sentiu cócegas nesse dia quando mexi nos seus pés.

São lembranças que vou guardar para o resto da minha vida.

O mês de Junho se aproximava e meu aniversário também. Eu pedi à Sofia que ficasse comigo no meu aniversário pois era a primeira vez que eu iria apagar as velinhas com minha filha. Ela ficou. Foi uma festa pequena mas muito legal. Sofia até cortou o bolo comigo.

No final de Junho de 2005, eu sentia que a Sofia estava enfraquecendo. Sua respiração estava mais leve. Ela já não estava mais ativa como antes. Tenho certeza que ela só estava esperando passar a data do meu aniversário para partir.

No seu penúltimo dia ela começou a chorar, lágrimas corriam pelo seu rosto e eu pedia a Deus para dar-me forças pois sua hora estava chegando. Ela chorou muito e eu então, começei a conversar com ela, dizia para Sofia que se a sua hora estava chegando, ela deveria ir para perto do papai do céu, pois a mamãe ia ficar bem. Eu cuidei tanto dela, dei tanto amor, que não poderia ficar triste.

Assim, depois de 123 dias, Sofia foi embora. E o que me deixa mais feliz, é que nesse momento de sua passagem, ela estava comigo.

Ela estava no meu colo. Com a sua mamãe.

Paty

 

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última atualização 11.03.2019