Vitoria de Cristo
Com doze semanas de gestação, descobrimos que nosso
primeiro e tão esperado bebê tinha um grave problema
chamado acrania. Não havia se formado nele a calota craniana,
e com a ausência de osso e de pele acima da cabeça, as
estruturas cerebrais presentes estavam expostas e seriam danificadas
em contato com o líquido amniótico, causando
anencefalia. Ficamos sabendo que esse tipo de malformação
é incompatível com a vida e que nosso bebê
morreria logo após nascer, e por isso poderíamos buscar
judicialmente o direito de interromper a gestação. Se
decidíssemos continuar, não havia garantia de que esta
chegaria até o final: o bebê poderia não
resistir, e eu, sua mãe, poderia enfrentar alguns problemas
como aumento de líquido amniótico e um parto
complicado. Não era uma criança viável, e a
morte era inevitável, mais cedo ou mais tarde, foi o que
ouvimos.
Apesar de conscientes da gravidade da situação, decidimos
acreditar que Deus poderia mudar esta sentença e fazer o
milagre de curar nosso bebê, permitindo que ele sobrevivesse
após seu nascimento. Enquanto nosso bebê estivesse vivo,
pediríamos a Deus por ele todos os dias, e buscaríamos
fazê-lo se sentir muito amado e bem-vindo. Logo descobrimos que
se tratava de uma menininha, e escolhemos para ela o nome de Vitória
de Cristo, pois além de consagrá-la a Deus, também
acreditamos que é pelo sacrifício perfeito de Jesus na
cruz que hoje temos esperança de uma nova vida, livres do
pecado, da doença e da morte.
Pela nossa fé em Cristo, decidimos não viver um luto
antecipado. Enquanto há vida, vamos celebrar a vida, foi o
nosso pensamento. Decidimos amá-la da mesma maneira que temos
sido amados por Deus, de forma individual, única e
incondicional, sem rejeição, sem medo, sem nunca
desistir. Em meio a muitas orações e lágrimas,
vivemos momentos de grande alegria durante a gestação,
vendo nossa filhinha crescer, começar a se mexer e chutar
minha barriga todos os dias.
Não houve nenhuma intercorrência na gestação, nem
mesmo aumento de líquido, ao contrário, nunca me senti
tão feliz, bonita e livre como nos dias da gravidez. Recebemos
um lindo chá de bebê feito por amigas queridas,
preparamos todo o enxoval com o que de melhor pudemos comprar, e no
dia 13 de janeiro de 2010 nossa amada filha nasceu de parto cesárea
(que também foi tranquilo e sem intercorrências), com 38
semanas, pesando 1.785 kg e medindo 38 cm, e foi levada para a UTI
Neonatal. Contrariando tantas previsões de morte, o que vimos
foi uma criança cheia de vida, linda e tranquila, e ficamos
maravilhados e gratos a Deus pelo privilégio de poder
conhecê-la, carregá-la no colo e passar momentos
inesquecíveis juntos. E para a surpresa geral, a história
não terminou aí! Apesar do crescimento restrito, ela
nasceu bem, ficou dois dias na incubadora e no terceiro dia já
estava no berço, em ar ambiente, começando a mamar na
mamadeira. Mas ela enfrentou muitos desafios, várias
infecções, dificuldade para ganhar peso, e por isso não
pôde deixar o hospital. Em cada intercorrência,
contudo, ela surpreendeu a todos com uma grande vontade de viver
e incrível capacidade de recuperação. Após
quatro meses de internação, surgiu uma possibilidade de
cirurgia para reconstrução da calota craniana, que foi
feita dia 19 de maio de 2010, com muito sucesso. E um mês
depois ela pôde finalmente ir para casa saudável,
respirando sozinha, mamando, vivendo!
Ninguém pode explicar como ela pôde sobreviver, contrariando toda a
literatura e todas as previsões médicas durante o
pré-natal. Após nascer, ela recebeu o diagnóstico
de anencefalia. Mas exames realizados após seu nascimento
mostraram que ela possui uma massa encefálica malformada,
com algumas estruturas não reconhecidas, que podem ou não
ter alguma função, e apresenta muitas reações.
Para alguns médicos, pode ser considerado um caso diferente de
anencefalia. Para outros, é uma malformação
cerebral diferente, sem um nome específico. Como ela tem
contrariado todas as regras, não é possível
dizer ao certo até onde ela poderá chegar, já
que tudo que ela tem feito é surpreendente e imprevisto. Pela
fé, nós cremos que Deus continuará fazendo
muitos milagres na sua vida, abençoando seu desenvolvimento de
forma surpreendente.
Cada dia vivido com ela tem sido único e maravilhoso. A Vitória
é uma criança adorável, sensível,
delicada, tranquila e de personalidade marcante. A sua vida tem sido
para nós um lembrete de que Deus existe, é poderoso e
muito bom. Uma prova do quanto cada um de nós é muito
amado por Ele.
Joana
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Última atualização em 11.03.2019